A este gosto pelo monstruoso e pelo grotesco correspondia, à parte uma ou outra excepção, como na cena da vindima do nosso Apocalipse, o desprezo absoluto pela observação da natureza animada e viva, motivo que depois será tomado como principal inspiração na segunda fase da iluminara designada por naturalista.
Nesta primeira fase da iluminura de que temos tratado e em que o artista não procura encantar mas infundir terror, fora da influência do monstruoso aparecem-nos, como motivos para os seus desenhos ornamentais, apenas os pórticos, dentro dos quais são dispostos os cânones dos evangelhos.
Isto se pode também verificar em algumas das iluminuras do códice da Torre do Tombo, em cujas cores o artista empregava apenas o azul, o vermelho, o preto e algumas vezes o amarelo pálido. São estas as cores características das iluminuras deste período, aparecendo também uma cor nova, o verde, que pode ser considerada, da mesma forma, como sinal característico da época.
No séc. XIII a sociedade que sucede à feudal renova-se para se tornar mais polida, de costumes mais delicados e mais inclinada aos divertimentos e cultura do espírito. Opera-se, ao mesmo tempo, na vida literária, um movimento renovador que tem como centro principal a cidade de Paris, com o aparecimento de livros profanos e maior afluência de escolares à frequência da sua famosa Universidade.
Este renascimento reflecte-se também nas Belas-Artes e na preparação de novas cores que os iluminadores profanos, em concorrência vitoriosa com os miniaturistas religiosos, começam a empregar para ornamentar as enciclopédias, as crónicas, as canções de gesta, os romances e as fábulas.
A estas novas cores vem juntar-se o emprego do ouro, tornando as folhas dos códices e manuscritos de tal forma brilhantes e cheias de tão vigoroso relevo, diz Henry Martin, que será difícil verificar se foram os iluminadores dos manuscritos que influenciaram os pintores dos vitrais, ou se foram estes últimos que abriram o caminho aos iluminadores.
São já diferentes os assuntos preferidos pelos novos artistas, inspirando-se não em figuras hieráticas do cristianismo e nas cenas terroristas do Apocalipse, mas em cenas vivas e animadas da vida real, com tarjas surpreendentes que marginam o texto dos códices e manuscritos inspiradas em variados motivos da flora e da fauna, da arquitectura, em quadros onde já se descortinam perspectivas de ridentes e sugestivas paisagens.
Em Portugal a iluminura chegou a atingir, principalmente nos séc. XV e XVI, grande perfeição e desenvolvimento, deixando-nos esta arte obras que são uma das maiores riquezas do nosso património artístico.
É, com efeito, rica de pormenores artísticos e abundante a colecção dos nossos manuscritos e cimélios iluminados; na impossibilidade de publicar aqui O inventário de todas essas preciosidades, que (…) poderá ver, entre outros, nos trabalhos de Sousa Viterbo, de Braamcamp Freire, de José de Figueiredo e no já citado livro O Archivo da Torre do Tombo, seja-nos lícito citar: na Biblioteca Nacional, a bela iluminura que o dr. José de Figueiredo considera uma das mais importantes da nossa escola da primeira metade do séc. XVI, as Regras de Santa Clara, o Livro de Horas da rainha D. Leonor, um exemplar do Fuero Juzgo, uma Bíblia hebraica do séc. XIV, o Speculum Historiale, de Vicente de Beauvais, em oito volumes, as Crónicas de Eusébio, do bispo de Ávila, Afonso de Madrigal, o Livro de Roma Triunfante, do séc. XV.
Na biblioteca da Academia das Ciências de Lisboa, o célebre Missal de Estêvão Gonçalves, o Livro das Armadas, Na Biblioteca da Ajuda, o Cancioneiro, A Fisionomia de Rolando, Allebrant de Florence – Traité de Médicine, códice com interessantes iluminuras e letras capitais com ouro em relevo e figuras alusivas ao assunto de que trata cada capítulo (séc. XVI).
No Museu de Arte Antiga, o famoso livro de Horas que se diz ter pertencido a D. Manuel, além de outras espécies iluminadas que se guardam nas bibliotecas: da Universidade de Coimbra, Évora, Braga, Municipal do Porto e Museu de Castro Guimarães, de Cascais.
Fonte: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa, Editorial Enciclopédia, Limitada, volume XIII, pp. 522-525,
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