Manuscrito iluminado do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, do último quartel do séc. XV. A obra de iluminura é dos artistas florentinos Attavanti e irmãos Gherardo e Monte del Fora. Texto latino a 2 colunas, com letra da renascença italiana; escrita em velino da melhor qualidade. Dimensões: 0,410X0,283.
Existe na Torre do Tombo um códice quinhentista – descoberto por Sousa Viterbo – onde aparecem inventariados os bens da herança de D. Manuel I, falecido a 13 de Dezembro de 1521, entre os quais figuram os livros da sua biblioteca: é o Livro de recepta das jóias e vestidos, etc. No item 9 da biblioteca descreve-se o lote em que figura a Bíblia dos Jerónimos:
«Oyto livros de Bribya que forom a Belem com suas gurnições per imteiro soomente a huu deles faltava huma brocha... cubertos de veludo cremezim, gurnecidos de prata dourada e anyallada (sic) e com oyto camtis cada hum e com quatro fyvelas com suas charneiras com que sabrocham e oyto boulhões, e dous escudos d'armas em cada hum, tudo de prata, e os boulhães soomente tê hum deles e todolos outros todolas outras peças, e hum destes livros é cuberto de veludo azull, que se chama Mestre das Sentenças, e tem hum letreyro de prata...».
Declara-se mais que as guarnições de prata dos 7 volumes da Bíblia pesaram 45 marcos, 6 onças e 7 oitavos, nada se dizendo quanto ao peso da prata do Mestre das Sentenças. A encadernação actual, de marroquim encarnado, é bem diferente e menos valiosa. No último quartel do século XV eram notados entre a colónia italiana de Lisboa dois grandes negociantes florentinos: Bartolomeu Marchioni e Jerónimo Sernigi; aquele de maior relevo ainda pela extensão das suas iniciativas e relações de carácter económico com a casa real portuguesa.
Provavelmente um e outro negociavam já com o açúcar produzido na Madeira. Escreve Sousa Viterbo:
«Marchioni cabe-lhe um lugar de primazia na história da nossa vida económica... por isso que, já individualmente, já associado a outros seus compatriotas, foi um dos principais agentes do tráfico do açúcar madeirense, e tanto que D. Manuel, proibindo, pela sua ordenança de 21 de Agosto de 1498, interferência dos negociantes estrangeiros no tráfico do açúcar madeirense, faz honrosa excepção de Bartolomeu Marchioni e Jerónimo Sernigi: “... hos mercadores nossos naturaes, no comto dos quaes queremos e nos apraz que caybam Bartolomeu Frorentim e Jeronymo Sernige; e antam entraram os estrangeyros”.»
Outro facto digno de nota, se dera anteriormente: em 23 de Abril de 1494 firmava-se em Florença, no cartório do tabelião Giovanni Carsedone, um contrato em que foram outorgantes Clemente Sernigi, irmão do negociante florentino já citado, e o iluminador Attavanti. Tratava-se da iluminação duma Bíblia com comentários de Nicolau de Lira, em 7 volumes, e do Mestre das Sentenças em I volume. Não há hoje a menor dúvida de que os 8 volumes são os que se encontram na Torre do Tombo.
Iniciaram-se os trabalhos no ano de 1494, após o referido contrato, começando pelo Mestre das Sentenças, que ficou pronto em 13 de Dezembro daquele ano, o que consta da subscrição final do escriba. Em Julho de 1497 concluía-se a iluminação do 7.º volume da Bíblia. Estava finda a grande obra de arte da iluminura florentina, mas Attavanti tinha tido o auxílio doutros artistas afamados, como já se referiu.
Os 8 cimélios vieram depois para Portugal. Ao tempo do falecimento de D. Manuel encontravam-se no seu guarda-roupa. O venturoso soberano legou-os ao Mosteiro de Belém, onde deram entrada em Fevereiro de 1522: ali se demoraram até a 1.ª invasão francesa (1807-1808). Junot levou-a para França mas mais tarde Luís Filipe, rei de França, comprou-a e restituiu-a ao governo português.
Fonte: Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Lisboa, Editorial Enciclopédia, Limitada, volume IV, pp. 644-645.
. 123 - Ex-Líbris de Antóni...
. 119 – UM NOTÁVEL DESENHO ...
. 118 – Testamento Velho do...
. 117 – Canguru Num Livro d...
. 116 – Banquete Aristocrát...
. 114 – Ex-Líbris de Antóni...
. 112 – Ex-Líbris de Antóni...