Bíblia dos Jerónimos, carta de S. Jerónimo ao presbítero Paulino, liv. I, fl. 7.
A Bíblia, com os comentários de Nicolau de Lira, dita Bíblia dos Jerónimos, (a que se deve agregar o volume iluminado das Sentenças de Pedro Lombardo, teólogo do séc. XII, que com ela forma uma unidade artística), foi encomendada por Clemente Sernigi para ser entregue a D. Manuel I quando era ainda Duque de Beja e príncipe herdeiro (1494).
Várias têm sido as hipóteses avançadas quanto à origem da Bíblia. Autores há que consideram a hipótese de se tratar de um presente dos florentinos estantes em Portugal e interessados nos descobrimentos portugueses, ao futuro monarca português. O facto de, porém, figurarem igualmente, as armas da rainha D. Leonor, irmã de D. Manuel e mulher de D. João II, no Mestre das Sentenças, que fez parte da mesma encomenda, parece indiciar antes uma oferta desta princesa, que teve, como o irmão, um culto bem renascentista pelo fausto artístico, como o provam, entre outras realizações, a Madre de Deus e a Vita Christi. Seja como for, a Bíblia dos Jerónimos e o Mestre das Sentenças constituem o primeiro grande marco e o primeiro sintoma da predilecção manuelina pelo belo e o luxo.
Trata-se de uma obra absolutamente ímpar que tem arrancado expressões de admiração a quantos a folhearam. Do conjunto de sete volumes que é a Bíblia dos Jerónimos, já se considerou que “quanto a livros de iluminuras, possui Portugal um tesouro ao qual nenhum outro se pode comparar. Vi a rica colecção do rei de Wurtemberg, vi os manuscritos iluminados de Viena, Paris, Turim, Milão, Siena, Roma, Nápoles, Monte Cassino e da Cava, mas nada acho que se ponha a par do tesouro de que falo, a Bíblia em sete volumes com comentários de Nicolau de Lira, conhecida por Bíblia dos Jerónimos por ter sido testada por el-rei D. Manuel aos frades Jerónimos em Belém” (Luígi Cibrairo), que “a Bíblia dos Jerónimos [...] constitui um dos mais primorosos manuscritos iluminados do século XV, e é um dos mais valiosos monumentos da notabílissima perfeição a que chegou a caligrafia e a miniatura.” (Esteves Pereira); que Pedro A. Azevedo e de António Baião: “Há nelas [nas páginas da Bíblia dos Jerónimos] miniaturas delicadíssimas, tarjas de uma finura sem igual, figuras de uma correcção admirável, vinhetas e arabescos verdadeiramente engenhosos” (Pedro A. Azevedo e António Baião); ou ainda que se trata da “obra mais sumptuosa de quantas sairam das oficinas florentinas do século XV” (Paolo d´Ancona).
Embora possa haver transparente exagero nestas palavras, a verdade é que, mesmo com desconto, não deixam de ser reveladoras.
A Bíblia dos Jerónimos provém da oficina de Attavanti Gabriello di Vante (Vante Attavante ou Attavante degli Attavanti). Quer a Bíblia quer as Sentenças encontravam-se outrora ricamente encadernadas, de acordo com as informações do “Lyuro da recepta das joias e vestidos e cousas outras, asy das que estauam na guarda roupa como no tisouro que ficarão del Rey dom Manoell ...”.
De tão preciosa, foi a Bíblia dos Jerónimos objecto da cobiça do General Junot, que a levou para França, apenas sendo recuperada por compra que do seu bolso fez o rei Luís XVIII à viúva do marechal napoleónico.
A 21 de Abril de 1815, quatro dias volvidos sobre a restituição, os monges, congregados em capítulo, ao som da campainha tangida, ouviram o relato da recuperação, lendo-se a comunicação que sobre o assunto enviara ao D. Abade o ministro dos Negócios Estrangeiros, D. Miguel Pereira Forjaz.
Mal podiam os Jerónimos adivinhar que nem duas décadas volvidas o Mosteiro dos Jerónimos seria extinto com as demais congregações religiosas. E que a Bíblia começaria outra “via-sacra”. Correu ela, então, com as demais preciosidades, entre as quais a Custódia de Belém, novos riscos. Salvou o tesouro do Mosteiro dos Jerónimos Frei Diogo do Espírito Santo (no século Diogo de Faria e Silva), que foi nomeado depositário dos bens do Mosteiro à data da extinção das Ordens e que, com risco para a própria vida, conseguiu depositar no Erário Público, elevada quantidade de bens quando se projectava um ataque ao convento.
Daí, de acordo com documentos existentes na Casa da Moeda, esteve a Bíblia dos Jerónimos na posse do Banco de Lisboa tendo transitado para a Casa da Moeda a 05 de Novembro de 1833. Ano e meio volvido, sem que pessoa alguma lhe tivesse tocado, em 1835 são os sete volumes da Bíblia dos Jerónimos entregues ao Real Archivo da Torre do Tombo, onde se mantém até hoje sendo considerada “a Jóia da Coroa”.
Adaptado de “Tesouros da Torre do Tombo”, Professor Doutor Martim de Albuquerque, INAPA e AN/TT, 1990.
Bíblia dos Jerónimos, explicação de frei Ambrósio às epístolas de S. Jerónimo, liv. I, fl. 5v.
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