Um médico ou físico da Medicina medieval, observa um paciente com uma inflamação num olho, conforme uma iluminura do Canon Medicinae de Besançon, do século XIII.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a preguiça, um dos maléficos sete pecados capitais.
No quadro superior, uma mula ou asno ricamente ajaezada de ouro jaz inerte no chão, e o cavaleiro burguês, pese embora a insólita situação, nesse ínterim mantem-se em cima da cavalgadura, dominado tal-qualmente pela inércia. O asno, simboliza deste modo a animalização do pecado teológico.
Na porção inferior o diabo amarelo Belfegor, Príncipe da Preguiça, com o prazer do mal e dedo em riste, comanda os destinos ociosos de todas as espécies e situações, pois a fiadeira dormita de roca da mão, o cão dorme profundamente, o alfaiate foi tomado pela acídia e não corta a peça de pano, tal como o burguês ricaço recostado no balcão e, até, uma mulher burguesa sentada num banco espreguiça-se indolentemente.
A cabeça reclinada representa o traço comum ao proscénio espacial. Estão todos possuídos de ócio porquanto a preguiça dilata a noção de tempo, retarda o trabalho e sustém o mundo na inactividade e, por isso, ninguém consegue fazer nada neste universo de pecado espiritual. A cena afigura, porém, uma alegoria profundamente crítica e satírica à burguesia, enquanto classe social, aqui caracterizada como avara, preguiçosa e viciosa. Assim, a preguiça, representa um duplo pecado social e moral.
Se acreditarmos nos cartapácios antiquíssimos, o basilisco era uma serpente fantástica, dotada da famigerada capacidade de matar com a vista. Até o padre António Carvalho da Costa diz que em São Salvador do Campo, no termo de Barcelos, «he tradição foy Mosteyro de Freyras, & que todas morrerão de verem um bicho: se he que assim foy, devia ser basilisco» (Carvalho da Costa, Corografia Portugueza, e Descriçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal, tomo primeiro, Lisboa, 1706, p. 301).
Este monstro fabuloso, matava, também, pela emissão dum sonoro silvo e o seu hálito nauseabundo secava campos, ervas, arbustos e fontes e, imaginem, rachava o mais rochoso dos calhaus graças à pestilenta halitose. Parece, a crer nesta mitologia, que a arruda era, tão-somente, a única planta que não murchava por acção bafienta do basilisco. Era, inegavelmente, o mais poderoso dos animais venenosos, o rei desta fauna prodigiosa de veneníferos. Aliás, a etimologia desta palavra vem do grego basiliskos, um diminutivo de basileus, a significar rei, rei das serpentes.
Na Roma Antiga descrevia-se o basilisco como uma serpente coroada por uma coroa dourada, ornada por uma pluma negra. Os romanos acreditavam que seria originário da Cirenaica, na moderna Líbia e, acrescentavam, que o Sahara tinha sido fértil e esplendoroso até ser atingido pelo mortífero poder duma colossal praga desta terrível fera, que destrói e mata tudo o que mira e remira. Olhando para aquele deserto, sou levado a crer nesta explicação, tão boa como outra qualquer. Em forma de letra, a mais antiga referência a esta lendária besta aparece em Caio Plínio, “o Velho”, nas colunas do livro oitavo da História Natural.
Com o andar dos tempos, no negrume da Idade Média, este mítico animal transformou-se numa híbrida serpe com cabeça de galo, quiçá por ser gerada dum ovo de sáurio sem gema, chocado por um asqueroso sapo num ninho de estrume, apresentado, aos olhos medievais, como uma serpente ou lagarto descomunal, com escamas, crista de galo, oito patas de galináceo, cauda trífida, olhos flamejantes e uma coroa dourada na carantonha. Contudo, a explicação mais convincente, explica que o basilisco nasce dum ovo posto por um galo velho – leu bem, um galo –, pois o galo quando é muito velho produz um ovo pequeno e redondo, incubado depois por um sapo ou besta venenosa numa esterqueira ou estábulo, em dia de grande canícula.
Vivia encafuado em subterrâneos, mas igualmente em ambientes áridos, com a particular propriedade de adaptação a meios aquáticos. Quando se deslocava por franças e araganças, andava a pé firme, direito e de cabeça erguida, em vez de rastejar como os demais ofídios, o seu sibilo espantava as demais cobras e matava todos os seres vivos pela catadura.
Devido ao aspecto medonho e transcendente faculdade de matar através do olhar raivoso, montava guarda mameluca a tesouros escondidos e a princesas encantadas, conforme relatam centenares de lendas aqui e ali. A malina era quase imortal, pois a única maneira de o matar consistia em colocar um espelho na frente, morrendo a peçonhenta ao reflectir ali o seu próprio olhar mortal. Quem com ferro mata, com ferro morre. Porém, o basilisco, temia a doninha e o galo, a bom tremer. Por isso, alguns viandantes levavam um galo na sua dianteira a fim de espantar a fera.
Se por ventura alguém ferisse um basilisco, morreria igualmente vítima dos miasmas do veneno presente no sangue desta animália. O ser humano acabaria por falecer, até mesmo quando golpeia o mostrengo por uma lançada infligida do alto dum cavalo, porquanto a peçonha subiria velozmente pela haste da lança até ao corpo do cavaleiro. Entrementes morto, o celerado basilisco, tinha alguma utilidade, pois a sua pele ou carcaça esquelética envolta numa rede de ouro era colocada em templos para espantar e afastar aranhas, formigas, pássaros ou pragas.
O papa Leão IV em pessoa, no longínquo dia 27 de Abril de 848, «com assombro e admiração do povo» romano, matou uma destas pestilências que se havia infiltrado e apoderado da Igreja de Santa Lúcia de Roma, «tão pernicioso e tão mau, que com a vista matava a quantos o viam, por cuja razão ninguém se atrevia a entrar na Igreja», tão-somente couraçado com a oração e a Santa Cruz. Por este admirável milagre subiu ao altar como santo e tomou, por isso, assento na corte celestial. Para impedir a entrada aos terríveis basiliscos, o santo padre mandou fortificar a cidade de Roma e cercar a colina do Vaticano com muralhas altíssimas, dizem os crédulos para impedir os ataques de hordas sarracenas, o que não é credível para quem como ele tinha defrontado a mais temível besta.
Concluímos, assim, que o basilisco era o pior de todos os animais, uma criatura do Inferno, porque o seu veneno era inimigo de toda a natureza. Para além desta retórica, nos séculos XVI e XVII existiam ainda diversos exemplares dissecados e conservados em diversos museus reais, que eram muito apreciados pelos naturalistas e colecionadores, forjados por exímios falsificadores. E na centúria de 1700, por coisas e loisas, ocorreram na Europa acesas e longas polémicas no seio da comunidade científica e naturalista acerca da existência ou não, da venenosidade e da capacidade de matar com o olhar dos basiliscos.
O basilisco marca alguma presença nos escudos ou timbres da heráldica russa, alemã, suíça, italiana e espanhola. Contudo não conheço nenhum caso da sua utilização na brasonaria portuguesa.
Palácio Nacional de Queluz, num desenho de António Lima, feito, assinado e datado em 1944. Mestre António Lima, que já era reputado iluminador, desenhador heráldico e de ex-líbris, dedicou-se com especial enfâse e dotes artísticos ao desenho a pena, tendo desta forma reproduzido inúmeras fachadas de igrejas, capelas, claustros, palácios, casas, edifícios nobres e os mais variados monumentos.
Neste caudal criativo, enamorou-se em particular da região de Sintra, tendo produzido uma apreciada coletânea de belíssimos desenhos, de rara beleza e sensibilidade em dezenas de motivos, fase que foi particularmente profícua na década de 1940. Usando uma técnica apurada e cor da sépia, os desenhos sobressaem pela nitidez, sobriedade e pela envolvência de planos de luz e sombra, por entre linhas solenes, formando, assim, um conjunto de notável criatividade artística.
O desenho que ora damos à estampa, representa a fachada central do Jardim de Azereiros, no Palácio Nacional de Queluz. Agradeço efusivamente ao sr. José Manuel Pinheiro de Figueiredo que teve a profunda amabilidade de remeter esta obra-prima da pena de António Lima, autorizando a sua publicação nas colunas deste blogue. Bem-haja!
Apareceu há meses um velhíssimo manuscrito português, datado dos finais do século XVI, que tem uma particularidade interessantíssima para os historiadores e para os portugueses: uma capitular maiúscula mostra um canguru desenhado na letra D. O facto em si não é despiciente de todo, pois o manuscrito é anterior à descoberta oficial da Austrália e pode, assim, servir de testemunho documental de que Portugal descobriu a terra australiana muito antes dos holandeses, juntando-se, assim, às outras provas e indícios no mesmo sentido.
Trata-se dum texto original com 63 fólios sobre papel, encadernação inteira de pele com filete duplo e inscrição gravada a ouro nas pastas com o nome da proprietária “Caterina de Carvalho”. O manuscrito apresenta uma cercadura a enquadrar a pauta com notação musical, escrita a tinta negra e vermelha, guarnecida por letra gregoriana em latim. Está ilustrado com dezenas de letras capitulares maiúsculas iluminadas e coloridas, guarnecidas com figuras de fantasia, humanos, animais e motivos vegetalistas.
O manuscrito em causa é um missal ou livro de orações com músicas para cerimónias religiosas, com cânticos gregorianos da missa solene, salmos, hinos e elegias e foi escrito em latim e em português e data de 1580 – 1600. Ora a descoberta dum canguru num manuscrito tão antigo prova, de forma indesmentível, que o artista iluminador teve acesso, então, aos relatórios da viagem ao continente e que diversos desenhos de marsupiais já circulavam em Portugal.
O livrinho manuscrito pertenceu a uma Catarina de Carvalho, freira em Caldas da Rainha, segundo dizem e noticiaram na ocasião, o que parece não estar conforme. Contudo, nessa época vivia na urbe caldense uma tal Catarina de Carvalho, esposa dum Felício Rodrigues e mãe que foi de frei Jorge de S. Paulo de Brito, sendo este documentado como provedor do Hospital das Caldas.
A anfisbena, que advém do grego amphisbaina e do latim amphisbaena, com o sentido de «serpente que anda nos dois sentidos», era uma cobra fabulosa e monstruosa representada na heráldica e iluminura com uma cabeça em cada extremidade, uma no lugar apropriado e outra no sítio da cauda. Devido a essa particularidade bicéfala, podia andar em qualquer das direcções, para a frente e às arrecuas. Gozava, também da fama de guardião da guarda dos tesouros dos antigos deuses gregos e, por causa da bicefalia, derramava o dobro do veneno em relação a qualquer outro ofídio.
A acreditar no Santo Isidoro de Sevilha (Etimologias, Livro 12), «os seus olhos brilham como lâmpadas», para além do condão único de poder sair durante o frio e enfrentar as temperaturas mais baixas. Não conheço o seu uso na heráldica portuguesa e na vizinha Espanha tão-somente me lembro das armas outorgadas pelo rei João Carlos I ao 1.º Duque de Fernández-Miranda, em 1977, onde, numa das partições, em campo de vermelho, cinco donzelas postas em aspas e carregadas, cada uma delas, de uma vieira de ouro, estão cercadas por duas serpentes anfisbenas de verde e coroadas.
Já agora, estando a mão de semear e por causa das cobras, convém lembrar que o primeiro timbre usado pelos reis de Portugal, em especial por Dom Fernando I e D. João I, foi a serpe alada de S. Miguel Arcanjo, a anfístera, aquele num conto de contar e este no fecho de abóbora do Claustro dos Reis e da Capela do Fundador, no Mosteiro da Batalha. Timbre que seria depois mudado para um dragão de S. Jorge pelo Mestre de Avis. Mas não se confunda a anfístera – serpente alada – com a anfisbena – cobra de duas cabeças.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a luxúria, um dos sete pecados capitais.
Ambas situações representam as duas maneiras em como o ser humano é tocado pelo deleite da luxúria, através do corpo e da alma. No palco cimeiro vemos um jovem cavaleiro ricamente enfarpelado, vestido de vermelho, verde, branco e azul, ornado com uma farta cabeleira loira cacheada, cujas botas de cano alto exibem umas descomunais esporas, tão simbolicamente fálicas, trazendo na mão direita um exuberante pássaro, que por sua vez seduz com a entoação do seu belo canto. Monta um descomunal bode, provido duns colossais testículos, símbolo da luxúria, agarrando os cornos do animal para manter o equilíbrio.
Na parte inferior, e bem no centro da cena da luxúria cortesã, uma jovem mulher de amarelo é assediada por três luxuriantes homens, sendo que um deles já a abraça por trás, com evidente agrado da donzela. À direita, do observador, outro varão levante a saia duma dama de azul, tocando nas suas partes intimas com a sua mão esquerda, enquanto ela tenta resistir e repelir a violenta abordagem. Atrás do homem, uma jovem vestida de vermelho assiste com manifesto agrado e êxtase à obscenidade.
À esquerda, Asmodeus, príncipe do Inferno, provido duns longos cornos, assiste à cena, que ele próprio dirige e impulsiona com um diabólico dedo da mão direita, entregando as ovelhas ao lobo. O demónio Asmodeus representa o pecado da lascívia desde tempos bíblicos, sendo apontado como aquele que conduziu e submeteu Sodoma à suprema luxúria.
Grifo, que advém do latim tardio gryphus, e este do grego clássico grypós, é o animal mitológico que foi mais utilizado na iluminura e na Arte em geral. Teve a sua origem na Mesopotâmia e dali passou à iconografia assíria, grega, etrusca, bizantina e romana, um pouco por toda a parte, a fim de iluminar telas, jóias, bronzes, granitos e esculturas desde tempos remotos. Animal fantástico, com cabeça, parte dianteira, patas da frente e asas de águia agregados num corpo posterior de leão. Desenhando-se, quase sempre, em postura rampante, foi incorporado na antiga heráldica da família real de Inglaterra, como uma das bestas de suporte do escudo. Foi, também, utilizado como suporte do escudo do rei Filipe II de Espanha e pelo imperador Maximiliano do México. Por sua vez o rei Afonso I de Nápoles fundou a Ordem do Grifo, com um grifo de ouro como emblema. Em Portugal, em alguma iconografia, o Infante Dom Henrique, o Navegador, é representado adornado com o colar grifado.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a ira, um dos condenáveis sete pecados capitais.
Na imagem vemos Leviatão, o alado diabo negro de asas vermelhas, a incitar um possesso da ira, o qual está montado num horroroso lobo, ao mesmo tempo que come a maçã vermelha da tentação e empunha uma adaga com a ponta abaixada, como a querer apunhalar-se.
A tarja inferior mostra uma intensa luta, onde todos lutam até à exaustão, pois as mulheres blasfemam e se insultam, os acirrados cães se mordem com intensidade e os iracundos homens matam-se raivosamente. A cena pretende ilustrar que a ira destrói as relações humanas e é a causa próxima do ódio e das desavenças, porquanto a ira «é a debilidade de coragem, movida pela vaidade, pelo orgulho, pela injúria, pela loucura e pela má vontade».
Ex-líbris heráldico de António Augusto de Matos Pinto Machado desenhado por António de Oliveira Lima em 1927, e gravado por zincogravura em 1928.
Escudo peninsular esquartelado com as armas de: I – Pinto, II – Machado, III – Botelho, IV – Pereira; com elmo, virol, paquife e timbre de Pinto.
António Augusto de Matos Pinto Machado, o titular desta marca, nasceu em Vila Real a 31 de Março de 1895, filho de Bernardino Pinto Machado de Azevedo e D. Bernardina da Conceição Gomes de Matos; foi oficial do Exército, proprietário, jornalista e director do Palácio de Cristal, do Porto; faleceu em Massarelos, freguesia da cidade do Porto, em 18 de Novembro de 1965.
ÁRVORE DE COSTADOS DE ANTÓNIO AUGUSTO DE MATOS PINTO MACHADO | |||
Próprio | Pais | Avós | Bisavós |
António Augusto de Matos Pinto Machado
* Vila Real, 1895
+ Porto, 1965 | Bernardino Pinto Machado de Azevedo
* Folhadela, Vila Real, 1849 | Dr. António Augusto Pinto Machado * Vila Real, 1802 | António Teixeira Pinto Machado de Azevedo |
D. Rosa Margarida Cândida Botelho de Azevedo Carvalho | |||
D. Ana Maria Vilela de Seixas da Fonseca * Folhadela, Vila Real | Francisco de Seixas da Fonseca | ||
Joana Fernandes Vilela | |||
D. Bernardina da Conceição Gomes de Matos Pinto Machado
* Vila Pouca de Aguiar, 1859 | Custódio José Álvares de Matos
| João António Álvares de Matos | |
Maria Teresa | |||
D. Mariana Emília Gomes Carneiro | Luís Gomes de Araújo | ||
Joaquina Rosa de Carvalho |
Ex-líbris heráldico, para ser usado como super-libros armoriado, do dr. Cristóvão Soares de Abreu, desenhado e gravado a buril sobre cobre por Nicola de L’Armessin, em 1670, e gravado a ouro sobre pergaminho.
Escudo esquartelado com as armas de Sequeira (I e IV) e Abreu (II e III), tendo sobre-o-todo as armas de Soares de Albergaria. Com elmo de frente, virol, paquife e timbre de Soares de Albergaria. A insígnia da Ordem de Cristo pende do elmo e a respectiva cadeia rodeia o exterior do escudo. Todo o conjunto é cercado por uma exuberante composição vegetalista, atada com um laço.
O dr. Cristóvão Soares de Abreu, filho do dr. Francisco Soares de Abreu e de D. Catarina Luísa Brandão, nasceu em Talharezes, lugar da freguesia de São João da Ribeira, concelho de Ponte de Lima (1601).
Foi moço-fidalgo da Casa Real (1615); genealogista; poeta; prosador; bibliófilo; formado em Direito na Universidade de Coimbra; magistrado; especialista em Jurisprudência; proprietário em Lisboa, Ponte de Lima e Alenquer; Senhor da Casa de Vale de Flores, em Cadafais, Alenquer, pelo seu casamento; cavaleiro da Ordem de Cristo (Janeiro de 1641); Juiz Desembargador Extravagante da Casa da Relação do Porto (18 de Janeiro de 1641); diplomata; secretário da embaixada especial enviada ao rei Luís XIII de França, para ajudar a defender os esforços da Restauração da Independência (3 de Fevereiro de 1641 – 22 de Julho de 1641); o Rei Dom João IV explica aos embaixadores Francisco de Melo, monteiro-mor do Reino, e dr. António Coelho de Carvalho, desembargador do Paço, que «os papéis e negócios da embaixada correrão por mãos de Cristóvão Soares de Abreu, que envio por secretário dela, com cuja pessoa vos recomendo que tenhais particular conta, e o ouçais sobre os mesmos negócios» (1641); desembarca em Lisboa para avisar El-Rei Dom João IV do fim da embaixada a França (8 de Agosto de 1641); 2.º Senhor do Morgadio de Soares de Abreu, de Lisboa, como sucessor de seu pai (1641); 2.º padroeiro da Capela de São Francisco do Convento de Santa Ana, em Lisboa (1641); recusou o posto de secretário da embaixada a França (1642); escreve uma carta com recomendações e advertências a D. Vasco Luís da Gama, Conde da Vidigueira, embaixador de Portugal em Paris (1642), Juiz Desembargador da Relação do Porto (1643); Juiz Ouvidor do Crime na Relação e Casa do Porto (6 de Fevereiro de 1645); Juiz Desembargador dos Agravos da Casa da Suplicação, de Lisboa (14 de Novembro de 1646); nomeado enviado plenipotenciário à Alemanha (Novembro de 1646); comendador da Comenda da Ordem de Cristo, do lote de 120$000 réis (13 de Dezembro de 1646); mercê de 120$000 réis de tença (15 de Dezembro de 1646); partiu de Lisboa com destino à Alemanha (19 de Dezembro de 1646); em Haia escreve ao Rei Dom João IV queixando-se que «eu me não acho com forças e capacidades para residir em Alemanha assistindo e agradando aos Principes della» pois «eu me não posso conformar por me aver criado no rigor da sobriedade Portuguesa» (9 de Agosto de 1647); enviado plenipotenciário ao Congresso de Osnabruck, na Alemanha, que preparou a Paz de Vestefália, a fim de terminar a Guerra dos Cem Anos (1647 – 1648); ministro residente de Portugal em França (1648 – 1651); escreve uma carta com recomendações e advertências a Francisco de Sousa Coutinho, novo embaixador em França (19 de Setembro de 1651); vereador do Senado da Câmara Municipal de Lisboa (Maio de 1652 – Setembro de 1671); D. Francisco Manuel de Melo dedica-lhe a obra A Visita das Fontes: Apólogo Dialogal Terceiro (1657); fidalgo da Cota de Armas, com armas de Sequeira, Abreu e Soares de Albergaria (1660); juiz conservador da Casa da Moeda de Lisboa (1666 – 1675); por ser o vereador mais antigo foi incumbido pela Câmara Municipal de Lisboa de pronunciar o discurso oficial de recepção ao rei Dom Afonso VI e à rainha D. Maria Francisca de Saboia, a quando da régia entrada na capital (29 de Agosto de 1666); o gravador Nicola de L’Armessin desenha e grava, a buril, o seu ex-líbris heráldico (1670); exonerado das funções de vereador do Senado da Câmara de Lisboa (5 de Setembro de 1671); apostila para que os 120$000 réis de tença que possui se juntem nos Almoxarifados do Reino (28 de Outubro de 1671).
Escreveu e publicou:
– Officium in Laudem Sacrosanti Eucharistiae Sacramenti Cum Litania, Lisboa, 1630.
– Nobiliário de Christovão Soares de Abreu, 1641, manuscrito.
– Advertências ao Conde da Vidigueira, Dando Instruções Para Sua Embaixada em Paris, 1643.
– Diário, manuscrito, 1648.
– Advertências a Francisco de Sousa Coutinho, 1651.
– Oração de Christóvão Soarez d’Abreu em Presença das Majestades d’El Rey D. Afonso VI e da Rainha D. Maria Francisca Isabel de Saboya, Lisboa, 1666.
Casou com D. Maria de Almeida do Amaral, natural de Alenquer e falecida em 27 de Junho de 1676 na freguesia do Socorro, cidade de Lisboa, e foi sepultada no Mosteiro dos Capuchos da Carnota, em Alenquer.
Faleceu numa casa na Rua das Parreiras, freguesia de Nossa Senhora do Socorro, cidade de Lisboa, faz agora 329 anos (4 de Junho de 1684); foi sepultado na Capela de São Francisco do Convento de Santa Ana, das Religiosas Franciscanas, na freguesia da Pena, cidade de Lisboa (4 de Junho de 1684).
Iluminura referente à cura do jovem possuído pelo demónio, do fólio Très Riches Heures du Duc de Berry.
Na imagem, que ilustra a liturgia do terceiro domingo da Quaresma, vemos Jesus Cristo a abençoar um jovem de corpo contorcido e cabeça pendente, que se debate e estrebucha nos braços de sua mãe por estar possuído por Belzebu, o Príncipe dos Demónios, sendo que este está representado por uma figura de diabinho alado e negro, que abandona o corpo do moço, perante um coro de testemunhas do milagre divino.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a inveja como um dos sete pecados mortais.
Na parte superior da gravura, um cavaleiro que simboliza a inveja, segura na mão direita um corvo. Na tarja inferior, a cena mostra três homens a murmurar abertamente corroídos de inveja da riqueza que um burguês luxurioso ostenta atrás duma secretária. Belzebu, o diabo amarelo e símbolo da inveja, aguarda o momento oportuno para intervir.
Representação da Adoração dos Reis Magos no Livro de Horas de Dom Manuel I, fólio do século XVI. A iluminura apresenta uma notável colecção de moedas de ouro e prata portuguesa e espanhola, para além, claro, do motivo central.
No primeiro plano do quadro principal da iluminura vemos uma guarda de janízaros e de notáveis ricamente vestidos de brocado e guarnecidos de pérolas e, ainda o habitual cão sempre presente, a fazerem escolta aos três Reis Magos, prostrados na adoração que prestam ao Deus Menino e à Sagrada Família, atrás dos quais espreitam a vaca e o burro, presença constantes e secular dos presépios. São José, de capa vermelha, está à ilharga de Maria, de manto anil puro, que segura o menino no colo. Ao fundo, à esquerda do observador e por detrás das colunas, uma monumental caravana de elefantes, camelos e cavalos, reminiscência da celebérrima embaixada que o Rei Venturoso mandou ao papa, corria o ano de 1514. Dos motivos arquitectónicos que compõem a cena, destaque para as duas gigantescas colunas do pórfiro e o edifício em ruínas, que simboliza a Casa de David.
A tarja que serve de cercadura mostra uma esplendorosa constelação de moedas de ouro e prata, pérolas e pedras preciosas. Na orla do lado esquerdo observamos, em reverso e anverso, três moedas espanholas do reinado dos Reis Católicos, Fernando de Aragão e Isabel de Castela, cujas efígies régias representadas nestas “doblas de ouro” estão voltadas um para o outro. Logo abaixo, temos cinco meios-vinténs manuelinos, em prata, de quinas redondas e cruz floreada diminuta. As moedas seguintes, um conjunto de quatro cruzados portugueses com a particular irregularidade de ainda apresentarem a flor-de-lis de Dom João I e os escudetes laterais contrários à reforma imposta pelo Rei Dom João II, em 1485. O grupo das três moedas seguintes é formado por dois vinténs de prata e um de ouro de Dom João III.
Já na tarja de pé-de-página, o primeiro conjunto representa cinco moedas portuguesas, no caso o meio-tostão de Dom João III e do tostão de prata de Dom Manuel I, em primeiro plano, com a Cruz de Cristo e a inscrição IN HOC SIGNO VINCES. No meio, novo conjunto de cinco moedas de ouro, os célebres “portugueses” do reinado de Dom João III, cunhados em Novembro de 1538 a pedido das Cortes Gerais de Torres Novas, com a Cruz de Cristo e a mesma legenda IN HOC SIGNO VINCES. A tarja inferior termina com três moedas, o meio-tostão de prata de Dom João III com a Cruz de S. Jorge e o “espadim” de ouro de Dom Afonso V.
A orla lateral direita, apresenta ao alto o “ceitil” de ouro com o escudo sem coroa real, e, por ordem descendente, sempre dois exemplares do vintém de prata de Dom João II, da moeda espanhola com a efígie do rei Fernando, do vintém de prata de Dom Manuel I, do vintém de ouro de Dom João III e, por fim, três exemplares duma moeda de ouro ainda com a Cruz de Avis e a forma amendoada do escudo, que parece ser o “real de dez soldos” de Dom João I, identificação muito controversa.
Extraordinário ex-líbris heráldico da biblioteca de António Maria de Sousa Sardinha desenhado por António de Oliveira Lima, em data indeterminada, e gravado a zincogravura.
Escudo peninsular esquartelado com as armas de: I – Mergulhão, II – Sardinha, III – Lobão e IV – Teles de Menezes; com elmo, virol, paquife e timbre de Mergulhão; divisa com a legenda “AGERE CONTRA”; tudo dentro duma espantosa cercadura com motivos vegetalistas e o cavaleiro S. Jorge a investir de lança em riste contra o dragão do mal na tarja inferior.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a gula, um dos sete pecados capitais.
No espaço maior, em cima, dentro duma sala vemos uma personagem, a caricatura dum gordo e desprezível burguês, montada num peludo e disforme javali, segurando numa das mãos um enorme presunto, enquanto bebe desenfreadamente dum canjirão, a fim de sobrealimentar uma rotunda pança.
Na tarja inferior, a cena mostra oito figuras de ambos os sexos durante uma pantagruélica almoçarada. Comem e bebem desalmadamente até ao extremo do vómito para voltar a comer de seguida, durante um banquete de todos os excessos, sob o olhar atento do demónio que a todos instiga na ânsia de recolher as pecaminosas almas.
Ex-líbris de António Maria de Sousa Sardinha desenhado por António de Oliveira Lima, em data indeterminada.
António Sardinha nasceu em Monforte do Alentejo a 9 de Setembro de 1887, faz agora 125 anos, e faleceu em Elvas a 10 de Janeiro de 1925, filho de José Maria da Silva Sardinha e de Maria do Rosário de Sousa Sardinha. Foi poeta (1902); aluno da Universidade de Direito (1906 – 1911); formado em Direito (1911); advogado; monárquico; fundador da revista NAÇÃO PORTUGUESA (1914); fundador e dirigente do Integralismo Lusitano (1914); ensaísta (1915); historiador; político; polemista; doutrinador; erudito; intelectual; redactor principal do jornal A MONARQUIA (1917); deputado da Nação, pelo círculo de Elvas (1918); nomeado governador civil do distrito de Portalegre, durante a Monarquia do Norte (20 de Janeiro de 1919); exilado em Espanha (1919 – 1921); director da NAÇÃO PORTUGUESA: Revista de Cultura Nacionalista (1922 – 1923); cronista; conferencista; escritor.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a avareza, um dos abomináveis sete pecados capitais.
Na parte superior da iluminação, vemos um cavaleiro montado num lobo voraz, para simbolizar o apetite avarento pelo dinheiro, ao mesmo tempo que exibe e derrama a bolsa vermelha repleta de moedas de ouro, trazendo presa à cintura, ainda, outra saca preta enorme e recheada. No seu encalço vem o diabo.
Na tarja inferior, a cena mostra oito figuras sovinas dentro dum quarto. Sentado na cama, um rico burguês conta as suas moedas de ouro em frente doutro opulento. Ao centro, uma senhora exibe a sua bolsa negra e recheada às suas jovens pupilas, a quem amestra como serem somíticas. Na ponta da esquerda, três personagens da alta-roda mostram à competição as suas bolsas, com o objectivo de saber quem tem mais riqueza. Todos vivem para desfrutar os imundos prazeres e vícios da avareza.
Ex-líbris heráldico de Abílio Pacheco Teixeira Rebelo de Carvalho, desenhado por António de Oliveira Lima, presumivelmente em 1927, e gravado a zincogravura.
Escudo peninsular partido, com o II cortado, com as armas de: I – Pacheco, de Duarte Pacheco Pereira; II cortado – 1.º, Teixeira; 2.º, Rebelo. Com elmo e timbre de Pacheco.
Árvore de Costados de Abílio Pacheco Teixeira Rebelo de Carvalho | |||
Próprio | Pais | Avós | Bisavós |
Abílio Pacheco Teixeira Rebelo de Carvalho
* Póvoa de Varzim 1894
+ Lisboa 1988 | João Baptista de Carvalho
* Bahia, Brasil 1842
+ Póvoa de Varzim 1910 | Francisco António de Carvalho
* Lousada 1801
+ Lousada 1873 | Alferes Francisco António de Miranda Barbosa de Saldanha
* Lousada 1763 + Lousada 1806 |
D. Rosa Maria de Jesus Pereira de Oliveira Carvalho
* Felgueiras 1766 + Lousada 1852 | |||
Eustáquia Virgínia Pires de Aragão
* Brasil |
| ||
| |||
D. Rosinda de Castro Pacheco Teixeira Rebelo
* Lousada 1871
+ Porto 1942 | Dr. João Manuel Pacheco Teixeira Rebelo
* Lousada 1845
+ Lousada 1901 | Luís António Teixeira das Neves Rebelo de Magalhães
* Lousada 1813 + Lousada 1863 | |
D. Rita Pacheco Monteiro Dias de Freitas
* Lousada 1820 + Lousada 1897 | |||
D. Maria de Sampaio de Castro Leite da Costa
* Fafe 1837
+ Lousada 1922 | José António de Castro Sampaio Leite da Costa
* Fafe 1796 + 1860 | ||
D. Josefa Maria da Rocha Magalhães
* Guimarães 1807 + 1884 |
Iluminura francesa do século XV com alegoria aos sete pecados capitais, representados por figuras humanas em cima das bestas: a ira = javali; a avareza = lobo; a luxúria = cão; a inveja = macaco; a soberba = leão; a preguiça = burro; a gula = urso.
Ex-líbris heráldico do dr. Francisco Carneiro de Assis Teixeira, desenhado por António de Oliveira Lima em 1927 e gravado a buril por André Victor Edouard Devambez. Escudo de fantasia esquartelado, com as armas de: I – Magalhães, II – Teixeira, III – Coelho e IV – Cunha; com coronel de Conde e timbre de Magalhães, por debaixo do listel com a divisa “DUM SPIRO SPERO”, tudo envolto por uma elegante cartela de belíssimo efeito decorativo.
. 123 - Ex-Líbris de Antóni...
. 119 – UM NOTÁVEL DESENHO ...
. 118 – Testamento Velho do...
. 117 – Canguru Num Livro d...
. 116 – Banquete Aristocrát...
. 114 – Ex-Líbris de Antóni...
. 112 – Ex-Líbris de Antóni...