Um médico ou físico da Medicina medieval, observa um paciente com uma inflamação num olho, conforme uma iluminura do Canon Medicinae de Besançon, do século XIII.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a preguiça, um dos maléficos sete pecados capitais.
No quadro superior, uma mula ou asno ricamente ajaezada de ouro jaz inerte no chão, e o cavaleiro burguês, pese embora a insólita situação, nesse ínterim mantem-se em cima da cavalgadura, dominado tal-qualmente pela inércia. O asno, simboliza deste modo a animalização do pecado teológico.
Na porção inferior o diabo amarelo Belfegor, Príncipe da Preguiça, com o prazer do mal e dedo em riste, comanda os destinos ociosos de todas as espécies e situações, pois a fiadeira dormita de roca da mão, o cão dorme profundamente, o alfaiate foi tomado pela acídia e não corta a peça de pano, tal como o burguês ricaço recostado no balcão e, até, uma mulher burguesa sentada num banco espreguiça-se indolentemente.
A cabeça reclinada representa o traço comum ao proscénio espacial. Estão todos possuídos de ócio porquanto a preguiça dilata a noção de tempo, retarda o trabalho e sustém o mundo na inactividade e, por isso, ninguém consegue fazer nada neste universo de pecado espiritual. A cena afigura, porém, uma alegoria profundamente crítica e satírica à burguesia, enquanto classe social, aqui caracterizada como avara, preguiçosa e viciosa. Assim, a preguiça, representa um duplo pecado social e moral.
Se acreditarmos nos cartapácios antiquíssimos, o basilisco era uma serpente fantástica, dotada da famigerada capacidade de matar com a vista. Até o padre António Carvalho da Costa diz que em São Salvador do Campo, no termo de Barcelos, «he tradição foy Mosteyro de Freyras, & que todas morrerão de verem um bicho: se he que assim foy, devia ser basilisco» (Carvalho da Costa, Corografia Portugueza, e Descriçam Topografica do Famoso Reyno de Portugal, tomo primeiro, Lisboa, 1706, p. 301).
Este monstro fabuloso, matava, também, pela emissão dum sonoro silvo e o seu hálito nauseabundo secava campos, ervas, arbustos e fontes e, imaginem, rachava o mais rochoso dos calhaus graças à pestilenta halitose. Parece, a crer nesta mitologia, que a arruda era, tão-somente, a única planta que não murchava por acção bafienta do basilisco. Era, inegavelmente, o mais poderoso dos animais venenosos, o rei desta fauna prodigiosa de veneníferos. Aliás, a etimologia desta palavra vem do grego basiliskos, um diminutivo de basileus, a significar rei, rei das serpentes.
Na Roma Antiga descrevia-se o basilisco como uma serpente coroada por uma coroa dourada, ornada por uma pluma negra. Os romanos acreditavam que seria originário da Cirenaica, na moderna Líbia e, acrescentavam, que o Sahara tinha sido fértil e esplendoroso até ser atingido pelo mortífero poder duma colossal praga desta terrível fera, que destrói e mata tudo o que mira e remira. Olhando para aquele deserto, sou levado a crer nesta explicação, tão boa como outra qualquer. Em forma de letra, a mais antiga referência a esta lendária besta aparece em Caio Plínio, “o Velho”, nas colunas do livro oitavo da História Natural.
Com o andar dos tempos, no negrume da Idade Média, este mítico animal transformou-se numa híbrida serpe com cabeça de galo, quiçá por ser gerada dum ovo de sáurio sem gema, chocado por um asqueroso sapo num ninho de estrume, apresentado, aos olhos medievais, como uma serpente ou lagarto descomunal, com escamas, crista de galo, oito patas de galináceo, cauda trífida, olhos flamejantes e uma coroa dourada na carantonha. Contudo, a explicação mais convincente, explica que o basilisco nasce dum ovo posto por um galo velho – leu bem, um galo –, pois o galo quando é muito velho produz um ovo pequeno e redondo, incubado depois por um sapo ou besta venenosa numa esterqueira ou estábulo, em dia de grande canícula.
Vivia encafuado em subterrâneos, mas igualmente em ambientes áridos, com a particular propriedade de adaptação a meios aquáticos. Quando se deslocava por franças e araganças, andava a pé firme, direito e de cabeça erguida, em vez de rastejar como os demais ofídios, o seu sibilo espantava as demais cobras e matava todos os seres vivos pela catadura.
Devido ao aspecto medonho e transcendente faculdade de matar através do olhar raivoso, montava guarda mameluca a tesouros escondidos e a princesas encantadas, conforme relatam centenares de lendas aqui e ali. A malina era quase imortal, pois a única maneira de o matar consistia em colocar um espelho na frente, morrendo a peçonhenta ao reflectir ali o seu próprio olhar mortal. Quem com ferro mata, com ferro morre. Porém, o basilisco, temia a doninha e o galo, a bom tremer. Por isso, alguns viandantes levavam um galo na sua dianteira a fim de espantar a fera.
Se por ventura alguém ferisse um basilisco, morreria igualmente vítima dos miasmas do veneno presente no sangue desta animália. O ser humano acabaria por falecer, até mesmo quando golpeia o mostrengo por uma lançada infligida do alto dum cavalo, porquanto a peçonha subiria velozmente pela haste da lança até ao corpo do cavaleiro. Entrementes morto, o celerado basilisco, tinha alguma utilidade, pois a sua pele ou carcaça esquelética envolta numa rede de ouro era colocada em templos para espantar e afastar aranhas, formigas, pássaros ou pragas.
O papa Leão IV em pessoa, no longínquo dia 27 de Abril de 848, «com assombro e admiração do povo» romano, matou uma destas pestilências que se havia infiltrado e apoderado da Igreja de Santa Lúcia de Roma, «tão pernicioso e tão mau, que com a vista matava a quantos o viam, por cuja razão ninguém se atrevia a entrar na Igreja», tão-somente couraçado com a oração e a Santa Cruz. Por este admirável milagre subiu ao altar como santo e tomou, por isso, assento na corte celestial. Para impedir a entrada aos terríveis basiliscos, o santo padre mandou fortificar a cidade de Roma e cercar a colina do Vaticano com muralhas altíssimas, dizem os crédulos para impedir os ataques de hordas sarracenas, o que não é credível para quem como ele tinha defrontado a mais temível besta.
Concluímos, assim, que o basilisco era o pior de todos os animais, uma criatura do Inferno, porque o seu veneno era inimigo de toda a natureza. Para além desta retórica, nos séculos XVI e XVII existiam ainda diversos exemplares dissecados e conservados em diversos museus reais, que eram muito apreciados pelos naturalistas e colecionadores, forjados por exímios falsificadores. E na centúria de 1700, por coisas e loisas, ocorreram na Europa acesas e longas polémicas no seio da comunidade científica e naturalista acerca da existência ou não, da venenosidade e da capacidade de matar com o olhar dos basiliscos.
O basilisco marca alguma presença nos escudos ou timbres da heráldica russa, alemã, suíça, italiana e espanhola. Contudo não conheço nenhum caso da sua utilização na brasonaria portuguesa.
Apareceu há meses um velhíssimo manuscrito português, datado dos finais do século XVI, que tem uma particularidade interessantíssima para os historiadores e para os portugueses: uma capitular maiúscula mostra um canguru desenhado na letra D. O facto em si não é despiciente de todo, pois o manuscrito é anterior à descoberta oficial da Austrália e pode, assim, servir de testemunho documental de que Portugal descobriu a terra australiana muito antes dos holandeses, juntando-se, assim, às outras provas e indícios no mesmo sentido.
Trata-se dum texto original com 63 fólios sobre papel, encadernação inteira de pele com filete duplo e inscrição gravada a ouro nas pastas com o nome da proprietária “Caterina de Carvalho”. O manuscrito apresenta uma cercadura a enquadrar a pauta com notação musical, escrita a tinta negra e vermelha, guarnecida por letra gregoriana em latim. Está ilustrado com dezenas de letras capitulares maiúsculas iluminadas e coloridas, guarnecidas com figuras de fantasia, humanos, animais e motivos vegetalistas.
O manuscrito em causa é um missal ou livro de orações com músicas para cerimónias religiosas, com cânticos gregorianos da missa solene, salmos, hinos e elegias e foi escrito em latim e em português e data de 1580 – 1600. Ora a descoberta dum canguru num manuscrito tão antigo prova, de forma indesmentível, que o artista iluminador teve acesso, então, aos relatórios da viagem ao continente e que diversos desenhos de marsupiais já circulavam em Portugal.
O livrinho manuscrito pertenceu a uma Catarina de Carvalho, freira em Caldas da Rainha, segundo dizem e noticiaram na ocasião, o que parece não estar conforme. Contudo, nessa época vivia na urbe caldense uma tal Catarina de Carvalho, esposa dum Felício Rodrigues e mãe que foi de frei Jorge de S. Paulo de Brito, sendo este documentado como provedor do Hospital das Caldas.
A anfisbena, que advém do grego amphisbaina e do latim amphisbaena, com o sentido de «serpente que anda nos dois sentidos», era uma cobra fabulosa e monstruosa representada na heráldica e iluminura com uma cabeça em cada extremidade, uma no lugar apropriado e outra no sítio da cauda. Devido a essa particularidade bicéfala, podia andar em qualquer das direcções, para a frente e às arrecuas. Gozava, também da fama de guardião da guarda dos tesouros dos antigos deuses gregos e, por causa da bicefalia, derramava o dobro do veneno em relação a qualquer outro ofídio.
A acreditar no Santo Isidoro de Sevilha (Etimologias, Livro 12), «os seus olhos brilham como lâmpadas», para além do condão único de poder sair durante o frio e enfrentar as temperaturas mais baixas. Não conheço o seu uso na heráldica portuguesa e na vizinha Espanha tão-somente me lembro das armas outorgadas pelo rei João Carlos I ao 1.º Duque de Fernández-Miranda, em 1977, onde, numa das partições, em campo de vermelho, cinco donzelas postas em aspas e carregadas, cada uma delas, de uma vieira de ouro, estão cercadas por duas serpentes anfisbenas de verde e coroadas.
Já agora, estando a mão de semear e por causa das cobras, convém lembrar que o primeiro timbre usado pelos reis de Portugal, em especial por Dom Fernando I e D. João I, foi a serpe alada de S. Miguel Arcanjo, a anfístera, aquele num conto de contar e este no fecho de abóbora do Claustro dos Reis e da Capela do Fundador, no Mosteiro da Batalha. Timbre que seria depois mudado para um dragão de S. Jorge pelo Mestre de Avis. Mas não se confunda a anfístera – serpente alada – com a anfisbena – cobra de duas cabeças.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a luxúria, um dos sete pecados capitais.
Ambas situações representam as duas maneiras em como o ser humano é tocado pelo deleite da luxúria, através do corpo e da alma. No palco cimeiro vemos um jovem cavaleiro ricamente enfarpelado, vestido de vermelho, verde, branco e azul, ornado com uma farta cabeleira loira cacheada, cujas botas de cano alto exibem umas descomunais esporas, tão simbolicamente fálicas, trazendo na mão direita um exuberante pássaro, que por sua vez seduz com a entoação do seu belo canto. Monta um descomunal bode, provido duns colossais testículos, símbolo da luxúria, agarrando os cornos do animal para manter o equilíbrio.
Na parte inferior, e bem no centro da cena da luxúria cortesã, uma jovem mulher de amarelo é assediada por três luxuriantes homens, sendo que um deles já a abraça por trás, com evidente agrado da donzela. À direita, do observador, outro varão levante a saia duma dama de azul, tocando nas suas partes intimas com a sua mão esquerda, enquanto ela tenta resistir e repelir a violenta abordagem. Atrás do homem, uma jovem vestida de vermelho assiste com manifesto agrado e êxtase à obscenidade.
À esquerda, Asmodeus, príncipe do Inferno, provido duns longos cornos, assiste à cena, que ele próprio dirige e impulsiona com um diabólico dedo da mão direita, entregando as ovelhas ao lobo. O demónio Asmodeus representa o pecado da lascívia desde tempos bíblicos, sendo apontado como aquele que conduziu e submeteu Sodoma à suprema luxúria.
Grifo, que advém do latim tardio gryphus, e este do grego clássico grypós, é o animal mitológico que foi mais utilizado na iluminura e na Arte em geral. Teve a sua origem na Mesopotâmia e dali passou à iconografia assíria, grega, etrusca, bizantina e romana, um pouco por toda a parte, a fim de iluminar telas, jóias, bronzes, granitos e esculturas desde tempos remotos. Animal fantástico, com cabeça, parte dianteira, patas da frente e asas de águia agregados num corpo posterior de leão. Desenhando-se, quase sempre, em postura rampante, foi incorporado na antiga heráldica da família real de Inglaterra, como uma das bestas de suporte do escudo. Foi, também, utilizado como suporte do escudo do rei Filipe II de Espanha e pelo imperador Maximiliano do México. Por sua vez o rei Afonso I de Nápoles fundou a Ordem do Grifo, com um grifo de ouro como emblema. Em Portugal, em alguma iconografia, o Infante Dom Henrique, o Navegador, é representado adornado com o colar grifado.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a ira, um dos condenáveis sete pecados capitais.
Na imagem vemos Leviatão, o alado diabo negro de asas vermelhas, a incitar um possesso da ira, o qual está montado num horroroso lobo, ao mesmo tempo que come a maçã vermelha da tentação e empunha uma adaga com a ponta abaixada, como a querer apunhalar-se.
A tarja inferior mostra uma intensa luta, onde todos lutam até à exaustão, pois as mulheres blasfemam e se insultam, os acirrados cães se mordem com intensidade e os iracundos homens matam-se raivosamente. A cena pretende ilustrar que a ira destrói as relações humanas e é a causa próxima do ódio e das desavenças, porquanto a ira «é a debilidade de coragem, movida pela vaidade, pelo orgulho, pela injúria, pela loucura e pela má vontade».
Iluminura referente à cura do jovem possuído pelo demónio, do fólio Très Riches Heures du Duc de Berry.
Na imagem, que ilustra a liturgia do terceiro domingo da Quaresma, vemos Jesus Cristo a abençoar um jovem de corpo contorcido e cabeça pendente, que se debate e estrebucha nos braços de sua mãe por estar possuído por Belzebu, o Príncipe dos Demónios, sendo que este está representado por uma figura de diabinho alado e negro, que abandona o corpo do moço, perante um coro de testemunhas do milagre divino.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a inveja como um dos sete pecados mortais.
Na parte superior da gravura, um cavaleiro que simboliza a inveja, segura na mão direita um corvo. Na tarja inferior, a cena mostra três homens a murmurar abertamente corroídos de inveja da riqueza que um burguês luxurioso ostenta atrás duma secretária. Belzebu, o diabo amarelo e símbolo da inveja, aguarda o momento oportuno para intervir.
Representação da Adoração dos Reis Magos no Livro de Horas de Dom Manuel I, fólio do século XVI. A iluminura apresenta uma notável colecção de moedas de ouro e prata portuguesa e espanhola, para além, claro, do motivo central.
No primeiro plano do quadro principal da iluminura vemos uma guarda de janízaros e de notáveis ricamente vestidos de brocado e guarnecidos de pérolas e, ainda o habitual cão sempre presente, a fazerem escolta aos três Reis Magos, prostrados na adoração que prestam ao Deus Menino e à Sagrada Família, atrás dos quais espreitam a vaca e o burro, presença constantes e secular dos presépios. São José, de capa vermelha, está à ilharga de Maria, de manto anil puro, que segura o menino no colo. Ao fundo, à esquerda do observador e por detrás das colunas, uma monumental caravana de elefantes, camelos e cavalos, reminiscência da celebérrima embaixada que o Rei Venturoso mandou ao papa, corria o ano de 1514. Dos motivos arquitectónicos que compõem a cena, destaque para as duas gigantescas colunas do pórfiro e o edifício em ruínas, que simboliza a Casa de David.
A tarja que serve de cercadura mostra uma esplendorosa constelação de moedas de ouro e prata, pérolas e pedras preciosas. Na orla do lado esquerdo observamos, em reverso e anverso, três moedas espanholas do reinado dos Reis Católicos, Fernando de Aragão e Isabel de Castela, cujas efígies régias representadas nestas “doblas de ouro” estão voltadas um para o outro. Logo abaixo, temos cinco meios-vinténs manuelinos, em prata, de quinas redondas e cruz floreada diminuta. As moedas seguintes, um conjunto de quatro cruzados portugueses com a particular irregularidade de ainda apresentarem a flor-de-lis de Dom João I e os escudetes laterais contrários à reforma imposta pelo Rei Dom João II, em 1485. O grupo das três moedas seguintes é formado por dois vinténs de prata e um de ouro de Dom João III.
Já na tarja de pé-de-página, o primeiro conjunto representa cinco moedas portuguesas, no caso o meio-tostão de Dom João III e do tostão de prata de Dom Manuel I, em primeiro plano, com a Cruz de Cristo e a inscrição IN HOC SIGNO VINCES. No meio, novo conjunto de cinco moedas de ouro, os célebres “portugueses” do reinado de Dom João III, cunhados em Novembro de 1538 a pedido das Cortes Gerais de Torres Novas, com a Cruz de Cristo e a mesma legenda IN HOC SIGNO VINCES. A tarja inferior termina com três moedas, o meio-tostão de prata de Dom João III com a Cruz de S. Jorge e o “espadim” de ouro de Dom Afonso V.
A orla lateral direita, apresenta ao alto o “ceitil” de ouro com o escudo sem coroa real, e, por ordem descendente, sempre dois exemplares do vintém de prata de Dom João II, da moeda espanhola com a efígie do rei Fernando, do vintém de prata de Dom Manuel I, do vintém de ouro de Dom João III e, por fim, três exemplares duma moeda de ouro ainda com a Cruz de Avis e a forma amendoada do escudo, que parece ser o “real de dez soldos” de Dom João I, identificação muito controversa.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a gula, um dos sete pecados capitais.
No espaço maior, em cima, dentro duma sala vemos uma personagem, a caricatura dum gordo e desprezível burguês, montada num peludo e disforme javali, segurando numa das mãos um enorme presunto, enquanto bebe desenfreadamente dum canjirão, a fim de sobrealimentar uma rotunda pança.
Na tarja inferior, a cena mostra oito figuras de ambos os sexos durante uma pantagruélica almoçarada. Comem e bebem desalmadamente até ao extremo do vómito para voltar a comer de seguida, durante um banquete de todos os excessos, sob o olhar atento do demónio que a todos instiga na ânsia de recolher as pecaminosas almas.
Iluminura do Livro de Horas de Robinet Testard, do último quartel do século XV, que representa a avareza, um dos abomináveis sete pecados capitais.
Na parte superior da iluminação, vemos um cavaleiro montado num lobo voraz, para simbolizar o apetite avarento pelo dinheiro, ao mesmo tempo que exibe e derrama a bolsa vermelha repleta de moedas de ouro, trazendo presa à cintura, ainda, outra saca preta enorme e recheada. No seu encalço vem o diabo.
Na tarja inferior, a cena mostra oito figuras sovinas dentro dum quarto. Sentado na cama, um rico burguês conta as suas moedas de ouro em frente doutro opulento. Ao centro, uma senhora exibe a sua bolsa negra e recheada às suas jovens pupilas, a quem amestra como serem somíticas. Na ponta da esquerda, três personagens da alta-roda mostram à competição as suas bolsas, com o objectivo de saber quem tem mais riqueza. Todos vivem para desfrutar os imundos prazeres e vícios da avareza.
Iluminura francesa do século XV com alegoria aos sete pecados capitais, representados por figuras humanas em cima das bestas: a ira = javali; a avareza = lobo; a luxúria = cão; a inveja = macaco; a soberba = leão; a preguiça = burro; a gula = urso.
O mês de Fevereiro num Livre d’Heures Français do século XV, com um camponês a aquecer-se junto duma chaminé.
Representação da Visitação no Livro de Horas de Dom Manuel I, fólio do século XVI. O quadro central retrata o encontro de Santa Isabel, ajoelhada perante a Virgem Maria, na presença de dois anjos caudatários que seguram o manto anil da Virgem, com uma mansão senhorial como pano de fundo. Duas azenhas preenchem a tarja de pé de página.
A iluminura do mês de Outubro no livro “Les Heures dites Hamilton Field”, do século XV: a uva é pisada num grande tanque por um camponês, cuja calça esta arregaçada até à parte superior da coxa. O vinho obtido é vertido para grandes tonéis.
As pipas saem do lagar por uma porta lateral e são carregadas numa carreta puxada por um cavalo branco, sob supervisão de dois mercadores pomposamente vestidos e debruçados sobre uma improvisada mesa. Os negociantes ostentam vistosos chapéus, em contraste com as demais personagens.
Aliás, as cinco figuras do primeiro plano, os dois mercadores e três trabalhadores braçais, trazem bolsas à cintura. A cercadura apresenta motivos botânicos de precisão menor, em tons azuis e amarelos.
Na tarja superior da cercadura, um homem vestido de vermelho, provido dum longo penacho e duma sedosa e basta barba - o único barbudo presente na iluminura -, combate tenazmente um gigantesco caracol, enquanto no pé-de-página um escudo heráldico é sustido, em suporte, por dois cervos nascentes de coroas douradas.
Iluminura do Livro de Horas de Dom Manuel, com a representação, no quadro central, do martírio de São Bartolomeu a ser esfolado vivo, deitado num catre encostado à coluna onde esteve preso e na qual pende ainda a sua mão decepada, assim como as grilhetas que o acorrentaram.
O carrasco segura a adaga na boca com os dentes cerrados, enquanto arranca a pele do sereno mártir, na presença do rei Astiago da Arménia, que ordenou a mortificação do santo apóstolo, e da guarda de lanceiros mamelucos.
No pé de página vemos o apóstolo São Bartolomeu a expulsar o demónio do corpo da filha possessa do monarca arménio, para espanto e gáudio dos cortesãos, perante a presença expectante dum canídeo. Na tarja lateral esquerda o santo sobe a escadaria de acesso a um templo-fortaleza, com pórtico de arquivoltas românicas, por cima do qual uma escada de mão dá acesso à torre nas ameias das muralhas.
A tarja da direita mostra as obras do templo, com um guindaste por cima da torre sineira, mostrando um pano de muralha merlonada rasgado por uma seteira estreita. O Divino Espírito Santo preside na tarja superior, por entre um céu anil esvoaçado pelas pombas.
Mês de Maio numa iluminura do dito Les Heures Hamilton Field, iluminada pelo chamado Maître du Walters, do século XV, retratando uma cena de piquenique junto de uma fonte, numa clareira cercada por um bucólico cenário florestal e vegetalista, como símbolo da época do amor.
Um jovem, coroado de flores, oferece de beber à sua elegante companhia feminina, ricamente vestida com um robe de mangas largas, colo subido e cintura ajustada. A esbelta dama apresenta um toucado cornígero típico francês do segundo decénio do século XV.
Uma segunda mulher faz companhia ao jovem casal na mesa, mais modestamente vestida, enquanto um distante criado guarda as cavalgaduras, para além da luxuriante vegetação.
Ao fundo, numa paisagem mais árida, sobressai um rosado castelo majestoso, tudo envolvido por uma cercadura de ornatos violeta e verde, ligados por fios de ouro.
A letra J iluminada capitular, na Crónica de El-Rei Dom Afonso Henriques, de Duarte Galvão, códice do século XVI.
Representação da Natividade no Livro de Horas de Dom Manuel I, fólio do século XVI. A Virgem Maria adora o menino deitado sobre o seu manto, perante o olhar surpreso e embevecido de São José, onde não faltam os tradicionais elementos decorativos, o burro, a vaca e os pastores, no interior de um edifício em estado de ruínas, com arcos de volta, dentro do quadro central. A tarja de pé de página mostra a chegada de São José e a Virgem grávida a Belém e a serem rejeitados pela estalageira, cercados pelos expectantes burro, vaca e cão, envolvidos por uma paisagem campesina.
Livro de Horas de Dom Duarte: São Francisco de Assis recebe os estigmas, na típica obsessão do milagre em tempos medievos. Iluminura do século XV.
Primeira página do foral de Óis da Ribeira, localidade do concelho e comarca de Águeda. A «aldea doões da rribeyra» foi elevada a vila por carta de foral dado em 2 de Junho de 1516 por El-Rei Dom Manuel I.
Iluminura do códice “Livro de Horas de El-Rei Dom Duarte”, no qual vemos um anjo a desdobrar um listel com a inscrição “Gloria in Excelsis Deo”.
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